24 abril 2012

25 de Abril de 1974, Parte II

Na pascoa almocei em casa do A. com a respectiva família. E como não podia deixar de ser, passei horas esquecidas à conversa com o tio dele.

Bem, o que posso dizer...é extremamente gratificante poder falar com uma pessoa assim, com uma cultura vastíssima, com um sentido de oportunidade fabuloso. Achei por bem falar dele, aprendo sempre tanto com ele...

O Sr. C, é um ex combatente das forças especiais (fuzileiros), que esteve na Guiné.
Adora perguntar como foi, como era aquele tempo. E o fantástico é que tenho sempre todas as respostas, e mais algumas. Basta eu desejar saber o que era a guerra, para terminarmos a falar de politica.

Sem sequer imaginar, fui nutrindo uma admiração tão grande por ele, que nem há palavras para descrever.

O que mais me sensibilizou foi a resposta que me deu, quando perguntei se não tinha medo!

"O Medo é Psicológico, se deixarmos, ele apodera se de nós de uma tal forma, que nunca mais te liberta"

E não é que é verdade?

Ele foi para fora, com a missão de reaver a ordem àquele país, pelo que me contou, na primeira missão, um companheiro ficou logo sem cabeça. E lutou, teve de lutar. Muitos foram os que não aguentaram, muitas das nossas baixas, foram por falta de discernimento e calma, muitos dos que lá ficaram, deixaram que o medo se apoderasse deles! Depois há também os que corajosamente se colocaram em risco para não deixar para trás os companheiros.

Apesar muito de gostar de disparar, não imagino o terror que não seria... Imaginam como era aquele tempo? Eles eram obrigados a servir o nosso país, mas o que me deixa estupefacta é que o faziam com amor à camisola , coisa que hoje em dia só acontece no futebol.

Ele estava na Guiné quando se deu o 25 de Abril, naquela noite, estava onde se recebiam os telegramas. Quando lhe perguntei o que havia pensado, nem me conseguiu responder.
Num minuto estava sozinho, pouco depois aquela sala estava cheia com todos os superiores dele.
Ficaram todos sem reacção à noticia que tinha havido um Golpe de Estado em Portugal!

Foi bom ou mau? Não me respondeu nem uma coisa nem outra, apenas que pelo menos nessa altura havia respeito!

O que pensar disto tudo? É complicado, muito mesmo!


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